Minha
vida
Três paixões simples, mas irresistivelmente fortes, governaram minha
vida: o desejo imenso de amor, a procura do conhecimento e a insuportável
compaixão pelo sofrimento da humanidade. Essas paixões, como os fortes ventos,
levaram-me de um lado para outro, em caminhos caprichosos, para além de um
profundo oceano de angústias chegando à beira do verdadeiro desespero.
Primeiro busquei o, amor, que traz o êxtase- êxtase tão, grande que
sacrificaria o resto de minha vida por umas poucas horas dessa alegria.
Procurei-o, também, porque abranda a solidão - aquela terrível solidão em que
uma consciência horrorizada observa, da margem do mundo, o insondável e frio
abismo sem vida. Procurei-o, finalmente, porque na união do amor vi, em mística
miniatura, a visão prefigurada do paraíso que santos e poetas imaginaram. Isso
foi o que procurei e, embora pudesse parecer bom demais para a vida humana, foi
o que encontrei.
Com igual paixão busquei o conhecimento. Desejei compreender os corações
dos homens. Desejei saber por que as estrelas brilham. E tentei apreender a
força pitagórica pela qual o número se mantém acima do
fluxo. Um pouco disso, não muito, encontrei.
Amor e conhecimento, até onde foram possíveis, conduziram-me aos
caminhos do paraíso. Mas a compaixão sempre me trouxe de volta à Terra. Ecos de
gritos de dor reverberam em meu coração. Crianças famintas, vítimas torturadas
por opressores, velhos desprotegidos - odiosa carga para seus filhos - e o
mundo inteiro de solidão, pobreza e dor transformam em arremedo o que a vida
humana poderia ser. Anseio ardentemente aliviar o mal, mas não posso, e também
sofro.
Isso foi a minha vida. Achei-a
digna de ser vivida e vivê-Ia-ia de novo com a maior alegria se a
oportunidade me fosse oferecida .
RUSSELL,
Bertrand. Revista Mensal de Cultura. Enciclopédia Bloch, n. 53, set. 1971. p. 83.
Produza um texto argumentativo subjetivo a partir do tema:
A duas paixões que governam a minha vida.